A hepatite B crónica, que afecta aproximadamente 400 milhões de pessoas em todo o mundo, pode vir a conhecer um novo tipo de tratamento, graças a uma investigação portuguesa. No âmbito da tese de doutoramento levada a cabo no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Sílvia Vilarinho conseguiu demonstrar que a hepatite B pode ser prevenida pela administração endovenosa de um determinado anticorpo. Estes estudos efectuados num modelo animal foram a fundação para estudos, já iniciados, em amostras humanas de indivíduos infectados pelo vírus da hepatite B.

Apesar de existir uma vacina eficaz disponível há mais de 20 anos, anualmente, mais de um milhão de mortes encontram-se associadas a complicações desta infecção crónica. Neste contexto, a investigação realizada por Sílvia Vilarinho abre portas a um potencial novo alvo terapêutico, bem como a uma nova estratégia terapêutica de doentes infectados pela hepatite B. Apesar do vírus da hepatite B não ser maléfico para a célula infectada, a resposta imunitária do organismo contra essa infecção conduz ao mau funcionamento do fígado. Os resultados da tese de doutoramento concluída no ICBAS identificaram, pela primeira vez, um mecanismo pelo qual determinadas células conseguem provocar a morte das que estão infectadas. A descoberta permitiu proceder ao tratamento de modelos animais (ratinhos) infectados, com a administração endovenosa de um anticorpo que previne a lesão hepática e, consequentemente, o mau funcionamento do fígado, uma vez que as células do sistema imunitário residentes no fígado são capazes de reconhecer as células infectadas. Assim, os animais portadores do vírus que receberam o tratamento não desenvolveram hepatite aguda. “Esta tese identifica um importante mecanismo envolvido na activação do sistema imunitário inato do fígado, aquando do combate inicial da infecção pelo vírus da hepatite B”, explica Sílvia Vilarinho. Estes estudos efectuados num modelo animal de hepatite B humana foram a fundação para estudos, já iniciados, em amostras humanas de indivíduos infectados pelo vírus da hepatite B. Além disso, os resultados desta tese de doutoramento conduziram ainda ao registo da patente deste anticorpo, para o potencial tratamento da hepatite B humana. As análises que estiveram na origem da tese de doutoramento foram efectuadas na University of California San Francisco (UCSF), considerada top 2 nos EUA na área das Ciências Biomédicas, logo a seguir a Harvard. Licenciada pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Sílvia Vilarinho completou a tese de doutoramento no ICBAS e encontra-se, actualmente, como post-doc na UCSF a finalizar alguns projectos, enquanto se candidata ao internato médico nos EUA. |