Acidente Geológico na Ilha de São Miguel (Açores) em 1997
Postado por Pedro Mota.

"Na madrugada de 31 de Outubro de 1997 registaram-se em toda a ilha de São Miguel, com particular incidência nos concelhos da Povoação e do Nordeste, cerca de 1000 movimentos de massa, após um período de chuvas intensas. Estes provocaram a destruição de habitações e pontes, afectaram sistemas de comunicação, detransporte de energia e soterraram extensas superfícies de terrenos agrícolas. A área mais afectada foi a da freguesia de Ribeira Quente, que ficou isolada por mais de 12 horas e onde 29 pessoas perderam a vida.

Separata Açores, n.° 16, 2003"

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"Na madrugada de 31 de Outubro de 1997 ocorreram na ilha de São Miguel inúmeros movimentos de vertente desencadeados por precipitação muito intensa. Embora toda ilha tenha sido de algum modo fustigada, o Concelho da Povoação foi sem dúvida um dos mais afectados.
Na sequência destes movimentos de vertente pereceram 29 pessoas residentes na freguesia da Ribeira Quente, enquanto no Faial da Terra houve a registar 2 feridos graves. No total ficaram desalojadas 69 pessoas. Os custos directos e indirectos foram muito avultados (cerca de 21 milhões de euros), resultado da destruição total de casas, estradas cortadas, pontes danificadas e terrenos cobertos de lama. A gravidade da ocorrência justificou a declaração de situação de calamidade pública.
A maioria dos eventos registados nesta fatídica madrugada corresponderam, predominantemente, a deslizamentos translacionais e/ou escoadas detríticas muito fluidas formadas por um mistura de água, vegetação, pedra pomes e cinzas, em que no primeiro terço do depósito se encontravam materiais mais grosseiros e nos dois terços finais uma mistura de água e cinzas, onde predomina claramente a água. Esse predomínio de água conferiu às escoadas uma baixa viscosidade, aliado à morfologia das vertentes (declives acentuados), permitiu atingir velocidades elevadas, tendo demonstrado uma elevada capacidade de erosão e de carga, transportando em alguns casos blocos com mais de 2 m, árvores com o sistemas de raízes intactas e alguns veiculos automóveis; em alguns casos as escoadas galgaram obstáculos com mais de 6 m.
As cicatrizes dos movimentos identificadas reflectem a predominância de deslizamentos muito superficiais, não excedendo o plano de rotura os 2-3 m de profundidade e cerca de 20 a 30 m de largura. As cicatrizes foram longas e estreitas, iniciando-se, muitas delas, no topo das vertentes e arribas, prolongando-se até à sua base. A espessura dos depósitos raramente atingiu valores superiores a 1 m.